Eu sou brasileiro, torço pelo Brasil na copa, mas não sou patriota

Eu não sou patriota, por conceito. Mas, sim, eu torço pela vitória do Brasil na copa, assim como torço para que, se não for o Brasil, seja um país da América Latina, incluindo Argentina, que aliás estão muito bem cotados.

Talvez eu não seja patriota por um problema nacional, uma herança histórica que não temos: a falta de uma luta pela independência, ou outras lutas que tenham unido o país. Como aconteceu com quase todos os países da América Latina, o que explica o patriotismo exacerbado destes. Ou como se vê nos estádios nas copas, ingleses vestidos de cruzados, por exemplo.

Mas por não ser patriota, e explicado pela ausência destas lutas nacionais, não gosto deste excesso de verde-e-amarelo a cada copa. Não gosto, também, por conceito, mas gosto da animação, da música, etc, e não gosto dos excessos. Excesso é coisa da juventude, e na minha eu cometi muitos excessos – de todos os tipos. Mas o espírito deve evoluir ao longo da vida e, com certeza, os excessos podem, às vezes, ter alguma finalidade, mas não representam uma evolução. E vendo estes excessos, surge uma explicação? Será que a combinação copa e cerveja (a bebida nacional) tem algo a  ver com isso? É uma hipótese, pois não se vê nada disso no 7 de setembro ou no 15 de novembro, que só são lembrados pelas paradas militares ou quando é feriadão. E nas festas nacionais? tirando o carnaval, que outras festas causam excessos nos convivas? qualquer uma que tenha cerveja ou chopp, seja de que origem for; exemplo: oktoberfest, festa alemã, que traz gente de todo o país para Blumenau; os rodeios, para peões e não peões – que ficam bebendo; etc.

Pelo mesmo motivo sou contra a imbecilidade dos marketeiros acharem que a Argentina é nossa “inimiga”. É nosso maior rival em campo (não só no futebol, no basquete eles são sempre melhores que nós), e só isso. Me escreva alguém que tenha um rival argentino, ou que tenha brigado com um argentino por algum motivo patriótico que não seja futebol e que não seja em época de Libertadores ou de Copa do Mundo.

Então, mesmo não sendo patriota, torço pelo Brasil. Isto porque aprendi a torcer pelo Brasil e não pela Argentina, Itália ou Alemanha. E torço pelos países da América Latina para manter em mim o sentimento de que continuamos livres dos imperialistas europeus – aqui ficam de fora os hispanicos. Assim como torço para que um time latino-americano ganhe o título de campeão mundial de clubes, incluindo argentinos. E é nesse sentido que considero todos os povos latino-americanos nossos irmãos.

Mas a globalização econômica e cultural fez diminuir em mim um pouco este sentimento anti-imperialista. Porque, mesmo sendo contra os imperialistas em muita coisa, não sou radical, não sou contra a globalização em muitos aspectos – escuto somente rock ‘n’ roll (inglês e americano, principalmente) desde os 14 anos e uso tênis Nike, agasalho Adidas, televisão Samsung, etc.
A globalização também tem provocado em muitos países a miscigenação dos povos (e o Brasil novamente pode ser o melhor exemplo, ao contrário dos países imperialistas da Europa), ainda em escala muito tímida. E espero que provoque um dia a remoção total das fronteiras nacionais no sentido de pátria, mantendo-se apenas para fins administrativos. John Lennon lives! (um britânico cidadão do mundo).

Assim como não sou patriota, não sou bairrista. Nasci em curitiba, já morei em duas outras cidades, critico Curitiba em muita coisa e defendo em muitas outras, como faria, provavelmente, em qualquer cidade grande brasileira que eu morasse – os problemas de Curitiba não tem nada a ver com os curitibanos, que alias, aqui já são minoria.

Então, não sendo patriota, estou me antecipando ao meu tempo, talvez para educar assim minha filha de 14 anos (que só escuta rock). Mas aqui, tenho um outro probleminha: minha filha adora Anime (veja o que é na wikipedia), e torceu pela Coréia, contra o Brasil, e agora torce pelo Japão. E ela não se importa com as diferenças entre a Coreia do Norte e a do Sul – e isso importa? Ela já está mais a frente no tempo do que eu? Espero que sim.

2 comentários em “Eu sou brasileiro, torço pelo Brasil na copa, mas não sou patriota

  1. adorei a maneira como se expressou, acho que eu não conseguiria o mesmo pois existe uma mágoa ou revolta dentro de mim relacionada ao Brasil. Mas me senti , digamos que “menos E.T” nessa multidão verde amarela. Hoje tem jogo! Me esforço, mas não existe o sentimento pelo país, portanto não torço pelo Brasil e acredito que o povo merecia que perdesse, numa ilusão de que isto faça alguma diferença mais adiante lá nas urnas. Bobagem né?
    acho que não sou patriota por choque cultural. gostei do que li, um abraço.

    1. Oi Carolina, fiquei feliz com seu comentário (não recebo muitos hehe). Eu não tenho refletido muito sobre a relação política e futebol, embora tenham havidos muitas discussões interessantes sobre isso. Mas eu penso que o futebol aumenta a auto-estima (ou felicidade) de um povo. Seja o povo que hospeda a copa, ou seja o da seleção que vence a copa. E essa auto-estima potencialmente só ajuda o governante em exercício. E no caso do Brasil, só se ganhar a copa. Se perder, não há efeito negativo, eu penso – o povo cai na real. Mas eu não penso que o povo brasileiro mereceria isso. Eu penso que é sempre melhor vivermos felizes. Eu não acho que devemos sempre aprender pelo sofrimento, mesmo que demore mais para entendermos a realidade. Mas isso é uma opinião muito pessoal e não sociólogica.

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